SOBRE ESTE BLOG

Como grãos que, após cada safra, cada produção, são armazenados no celeiro, aqui o espaço para textos; seja em verso, seja em prosa. Espaço que espero venha a tornar-se profícuo na propagação de pensamentos, ideias e emoções. Aqui o celeiro.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

POETA, POESIA, POEMA

http://www.youtube.com/watch?v=kYoMfRSzIjE

"Sempre chega a hora da solidão,
sempre chega a hora de arrumar o armário,
sempre chega a hora do poeta plêiade,
sempre chega a hora em que o camelo tem sede. ..." (Ana Carolina)

Em um tempo em que a poesia sobrevive pela inerência da emoção ao ser humano, o poeta raramente é plêiade, mas como diz a letra d'O avesso dos ponteiros, de autoria da compositora e cantora Ana Carolina, sempre haverá um momento em que este se fará plêiade.
É através da emoção, inerente à todas as formas de arte, que por sua vez tem em sua imanência a poesia, que o poeta, apartado de sua denominação de poeta, (pra não dizer rótulo, por que ser poeta pode soar pejorativamente em nossa sociedade prática e capitalista), se fará plêiade.
As mais diversas formas de arte utilizam-se das mais diversas estéticas, porém, todas têm em comum a emoção, que por sua vez utiliza-se da poesia para expressá-la, através das características que lhes são próprias. O poeta, então, faz-se plêiade, isto é, brilha, através de outras estéticas que não a do poema. Mas, como não pretendo ser uma sétima estrela de nada, vou deixar aqui um pouco de poesia em formato de poema mesmo!


ESPERANÇA

Eu espero,
incansavelmente, espero
o fim dos apartheids velados,
da voz sufocada dos oprimidos
lesados, explorados e esquecidos.
Espero
as crianças brincando livremente
na pracinha de canteiros floridos.
Espero mais verdade nos púlpitos
e o fim dos crimes contra o erário público.
Espero o amor ditar as normas na sociedade,
- e não o contrário! -
espero o cinismo e a falsa moral
substituídos pela verdade,
a minha verdade, a sua verdade,
a nossa verdade.
Espero, incansavelmente, espero
por que esperar é não deixar o sonho escapar,
e não deixar escapá-lo é viver.



segunda-feira, 21 de junho de 2010

SOBRE BRASÍLIA


Fui, agradavelmente, compelida a escrever um poema sobre Brasília. Tanto pelas pessoas que me perguntam se eu já o escrevi, quanto pelo sentimento que nutro por essa cidade. Então, aí está minha homenagem aos 50 anos de Brasília:


BRASÍLIA

Cerrado, faixas verdes, concreto.
Vias amplas que conduzem os sonhos
da mocidade no fazer moderno.

Na amplidão, que és tu,
concretizas o sonho que se fez eterno
em traços geometricamente curvos,
como o arco das almas dos primeiros candangos,
aqui chegados para te construir.
Como as linhas retas e precisas
dos que em ti se fizeram planos,
se fizeram anos e anos,
e na saudade de outros lugares
criaram o limo do apego
e aprenderam a te amar.

Na amplidão, que és tu,
os corações confrangidos
construiram o sonho do lugar idealizado
e voaram em tuas asas de norte a sul,
sob o céu mais amplo e anil jamais visto,
sob a sequidão dos dias banhados de sol inclemente
ou das noites frias entremeadas de lágrimas,
vertidas pela saudade da visão de outro azul.

Tão jovem e desde sempre tão importante
tu segues imponente através da nossa história,
acolhendo os que em ti ainda esperam,
de alguma forma, fazerem-se família,
e de alguma forma far-se-ão
pois tuas asas, abertas de norte a sul,
sempre acolhem os que em ti chegam, Brasília!

domingo, 20 de junho de 2010

MISTURA


Vem, e mistura o seu suor ao meu,
- o suor é incolor -
Mistura sua visão à minha,
olhando na mesma direção
- a linha imaginária dos objetivos únicos é incolor -
Mistura o seu silêncio ao meu,
- silenciar a dor é incolor -
e a sua voz à minha,
- vozes juntas não são crespas ou lisas,
são apenas vozes. -
Mistura o seu sonho ao meu,
e com nosso suor,
nosso olhar sobre o futuro próximo,
nosso grito rasgando o silêncio de séculos,
(mal vividos), construiremos nosso espaço igual,
onde não caberá mais o grito
por que o silêncio não será mais opressivo,
o silêncio selará o acordo de um espaço único,
e o fim de uma situação desumana.

CADA UM SABE DO SEU

Respiro a inquietude dos aflitos,
e me contorço feito o anjo torto que sou.
Não me cobro mais correta do que consigo ser,
até porque a correção perfeita é a tradução
do moralismo podre e cínico dos que se dizem retos.
Prefiro ser torta mesmo,
e com uma boa dose de alegria e loucura,
que é pra não viver a monotonia dos angustiados tristes.
A angústia ruminante é o meu segredo
e, a minha leveza de alma é o que consigo de mim,
quando construo-me na angústia e na aflição,
tornando-me tortamente leve, tortamente feliz.
Realizo-me assim.
Quem sabe do meu eu sou eu!
O Carlos sabia do dele,
O Augusto sabia do dele,
A Virginia sabia do dela.
Enfim, penso que você sabe do seu. NÃO É?!